Em uma das aulas, uma das alunas desabafou seu desconforto com a minha presença, dizendo que eu “perguntava muito”. No final de cada lição o professor dizia: “Alguém quer fazer alguma pergunta?” Eu ficava quieta, ninguém falava nada, daí eu perguntava. Na verdade eu ficava pensando comigo: Meu Deus, ninguém vai falar nada? Um mestre desse! Eu tenho mil perguntas! – e então perguntava.
Desenvolvi a partir daquela experiência uma ferramenta íntima para lidar com momentos em que me sinto julgada ou momentos em que começo a julgar alguém. Aquela menina do curso falhava em pensar em si mesma – como eu falho muitas vezes, então nem éramos tão diferentes! Encolhida no seu canto, apontava para o seu oposto, desprovida da coragem.
Na época eu não tinha nem sabedoria nem a compreensão de que, muitas vezes, quem esbraveja também ama. Que ela jamais teria sido grosseira se estivesse de bem consigo mesma. Nada nos custa a elegância de um feedback de canto, um diálogo relativamente desconfortável mas curador, que confronta a verdade: “Olha, quero falar mas não sei como, você me incomoda… queria não sentir isso. Me desculpe”. Ou algo do gênero.