Estamos sem água em nossa casa há três semanas. A Casan está com um megaproblema e estamos desabastecidos. Conseguimos um ou outro caminhão-pipa — mas não resolve por muito tempo. Sorte nossa minha mãe e meu pai ainda guardarem meu quarto intacto na casa deles. Moram pertinho — os dois e as dogs, Nude e Joy. Então, quando preciso, e quando não preciso também, tenho uma cama quentinha, que a mãe arruma; uma salada de frutas cortadinhas, que o pai faz; e um colo pra deitar.
Ficar sem água em casa é bem ruim. Mas me parece um problema tolerável quando se sabe que é para melhorias e quem tem data para acabar. O que angustia sobre qualquer crise que estejamos vivendo é não compreender que ela acabará. Também angustia quando não se sabe se a mudança será mesmo para o nosso melhor — apesar de sempre ser — porque a dúvida enfraquece a firmeza que é muito necessária em movimentos de mudança.
No término de um namoro longo que eu tive, não imaginava que sofreria tanto. Já se iam quatro meses de sofrimento diário quando resolvi ligar para um dos meus mestres, que é um dos psicólogos que mais admiro, e confessar o tamanho da dor e o quanto estava difícil. Depois de me escutar, ele disse: “Ih, Vanessa! Isso vai mais uns seis meses desse jeito, pelo menos”.
Poderia ser uma notícia ruim, mas não foi. Saber que vai acabar, mesmo que o trajeto seja dolorido e escuro, acalma — e o caminho já não é mais tão incerto. Tem mesmo luz no fim do túnel, para todos nós. Quando dei por mim estava amando descobrir que conseguia lidar com a minha dor e acabei encontrando uma Vanessa melhor dentro de mim.
Na segunda-feira fui então pra casa dos pais. Água (!), cama e saladinha, colo e “doguinhas” pela casa. Acordei no dia seguinte, passei um tempo deitada com a mãe, falando da vida. Daí ela saiu e o pai acordou. Desci para tomar café com ele, e ficamos quase uma hora e meia conversando como, sinceramente, fazia muito mais de três semanas que eu não fazia.
Nunca acredito que a vida está me sacaneando quando falta água na torneira. Olho para a vida pensando que há resgates que eu não faria, nem veria, não fosse um corte de despertar como este. Torço para que a água volte, mas que mesmo que ela venha, não nos falte o amor para dialogar.