Tocou o telefone aqui na empresa. Um senhor do Oeste do estado tinha acabado de ver a reprise de um programa de TV em que eu participei, e ligava propondo que eu o conhecesse – para que, talvez, eu me casasse com ele.
Eu disse que queria me casar, ao vivo, no Jornal do Almoço. O tema era relacionado às nossas metas, sobre o quanto colocar nossos sonhos para nos acordar todos os dias faz sentido. E sobre a importância de compartilhar o que desejamos com as pessoas certas: Isso, sempre!
Quartas-feiras são os dias em que passo 10 minutos com a Laine Valgas e o Mário Motta, conversando, com quem está em casa, sobre “Vida e carreira” – no quadro “Quero Saber”. Naquele dia, quis declarar meu amor, dizendo um “sim” público – mas não deixei claro que estava noiva. Rimos muito em nossa empresa e com os recados que chegaram pelo nosso Whatsapp. Se eu não fosse noiva, talvez conseguisse um pretendente. Uma bola fora bem humorada.
Nesta semana, fui convocada para palestrar em um evento de nome desafiante, sobre as melhores piores histórias no meu negócio. Eu amei! Neste evento mundial, empreendedores são convidados a compartilhar “acordos de parceria que azedaram, produtos que fracassaram, empresas que faliram, mas, que de alguma forma os ajudaram a percorrer o tortuoso caminho no mundo dos negócios” – conforme palavras do próprio time das FuckUp Nights (o nome não é assim tão soft) – que começou como um desabafo no bar entre amigos no México em 2012 e hoje é realizado em mais de 263 cidades espalhadas pelo mundo. Um movimento global que chama pessoas para se levantarem em frente a uma sala cheia de estranhos para compartilhar seu próprio fracasso. Sensacional!
Fui roubada pelo meu “braço direito” assim que comecei a empresa, em 2010. Tivemos um cliente que fechou conosco um trabalho, mas nunca nos pagou pelo serviço. Teve a tranquilidade, entretanto, de nos incluir – eu e o Juliano, meu sócio e irmão – em seu grupo do Whatsapp para acompanhar sua viagem de volta ao mundo, enquanto fazíamos empréstimo para dar conta do que movimentamos para atendê-lo. Teve cano estourado em dia de curso e erros de português impressos em nossos materiais mais caros, que tivemos que jogar fora. Houve tentativas de parceria que jamais vingaram, piada que era para ser engraçada em palestra mas só eu achei graça e até palestra em que ninguém apareceu. Uma vez, veio uma pessoa.
Com o tempo parece que a gente vai escrevendo um livro caixa preta dos erros e habilidades inexistentes, das próprias incompetências, da idade da empresa e nossa inexperiência. Ao inventariar minha lista de fracassos, percebi que sou profundamente grata a eles, porque fui testemunha de milagres enquanto era traída por uma funcionária, enganada por um fornecedor, ou até quando minha família passava pela grande dor da perda do meu irmão. O olhar corajoso para nossas vulnerabilidades nos desenvolve. Precisamos seguir.
Quando procuro me definir estão entre minhas traduções que sou angustiada, gosto de crises, estudo o jeito de me desequilibrar. É um quase total contra senso, porque, no mundo ideal, se pressupõe que nada dá errado. Daí sofremos com os erros que estarão no caminho, com as escolhas erradas. Mas somos seres em construção – então é um grande 80-20 de erros e acertos administrar a própria vida.
Por Vanessa Tobias – colunista da Revista Versar