Essa semana fiz uma palestra para uma empresa bem grande. Era reunião dos gestores regionais e uma das líderes do grupo é a Cynthia e eu conheço desde a época do colégio. Ela sempre foi amorosa e leve, tem um olhar cativante. Mais tarde fui aluna do professor França na faculdade e descobri que ele é pai dela – daí entendi que aquela doçura tinha uma origem bem clara.
Uma das primeiras coisas que aprendi quando fiz o curso do Dale Carnegie – que fala de liderança e comunicação – é que sempre um bom líder trabalha o “nós”, nunca o “vocês”. Afinal de contas somos todos um organismo só, e é elegante – se pela lógica a gente não se convence dessa premissa – que para que qualquer sonho aconteça é preciso estar em união. Na empresa a gente sempre recebe pedidos de parceria para cursos, palestras e para eventos. Desde o advento do “nós” em minha vida a primeira coisa que faço é procurar uma entrevista, vídeo, ou texto da pessoa ou empresa que nos procura.
Meu intuito é saber se estamos alinhados em nossos valores e preparados para seguir em algum projeto. E temos encontrado com frequência alta: “- Você tem medo de falhar?; – Você tem crenças limitantes?; – Você se sente perdido? Sim?! Então eu tenho a solução. Faça isso ou aquilo que resolvo para você.”
Juro! Eu não acredito em nenhum processo feito de cima para baixo. Será mesmo que é possível vender respostas que só temos dentro de nós? Parece que com o “você” vem um dedo apontando nossos erros, uma sensação de angústia por não saber exatamente onde estamos errando, e quando a gente vê está tomado de culpa e comprando um produto que não nos servirá de inspiração.
Há comparação, alguém maior, melhor… mas isso, eu não sinto que existe realmente. Não há mestre que não tenha sido um desastre, e justamente por experiência o mestre não se coloca acima, mas ao lado. Amo meus mestres por isso. Somos nós. Se está no outro, está em mim e comigo. De que outro modo teríamos sucessores? Então se a proposta vem de um “você” já vejo que é possível que a proposta de parceria venha de um momento desalinhado com o nosso.
Finalizado o evento, veio o discurso final de uma líder de verdade. Fiquei escutando “a gente” e “nós” como se tivesse escutando a Marisa Monte cantar – que eu amo! – e era poesia rara.
Eu acabei pedindo a palavra de volta para agradecer por aquele sinal dos bons tempos que a Cynthia estava trazendo com uma fala tão integradora. É sensacional quando alguém nos inclui nas coisas e nos lembra da leveza da vida quando estamos uns com e pelos outros. Fiquei muito grata.
Carl Rogers mudou o mundo com a psicologia humanista. É de longe a abordagem que eu mais admiro e que considero mais preciosa. Quando entramos em sala, abrimos espaço sobre a nossa experiência e sobre o que nos acontece em conjunto com o outro.
Quando abrimos o nosso coração, permitimos que o conforto ocupe o espaço do confronto, e o que é de fato – que somos todos um – dá lugar aos processos de nossas curas mais profundas. Finalmente nos escutamos novamente e encontramos, com a ajuda do outro ao nosso lado, as respostas que tanto precisamos para seguir.